Prazer e Morte



A vida ia deixando seu corpo enquanto ele olhava sua assassina. O rosto bonito da mulher não transmitia nenhum arrependimento, nem piedade. Com um sorriso perverso ela se vestiu e abandonou o agora cadáver no quarto de um hotel barato. Não havia ninguém na portaria.                                                                                                
A loira tomava sua cerveja, consciente dos olhares de desejo dos homens ao redor. Era uma mulher bonita e sabia fazer uso dos seus atributos. Nesse momento examinava o local disfarçadamente em busca de uma vítima em potencial. Era exigente, gostava de homens jovens e bonitos. Principalmente os mais convencidos. A noite estava fraca, não havia nenhum do seu agrado. Com um suspiro ela começou a se levantar, quando o rapaz entrou. Era um moço atraente e de ar arrogante. A loira o encarou quando ele passou por sua mesa, mas ele apenas a olhou distraidamente e foi em direção ao balcão. O descaso do sujeito incomodou a mulher, que decidiu que era questão de honra conquista-lo. Cheia de malicia ela foi se sentar ao seu lado e puxou conversa. Soube então que o rapaz era noivo e estava de casamento marcado. Conversaram durante um bom tempo, e depois de várias cervejas a loira conseguiu atraí-lo para um hotel. 
Por várias vezes naquela noite ela teve chance de mata-lo, mas algo no bonito rapaz a impediu. Quando amanheceu o dia deixaram o hotel, cada um para o seu lado.                                                                                          
Os meses se passaram e Samanta, a loira, continuou no oficio de assassina. Atraia os rapazes e em após o ato sexual, os matava. 
Desde os dezoito anos quando sua irmã mais nova foi estuprada e estrangulada, Samanta fez o juramento de exterminar quantos homens conseguisse. Agora aos vinte e cinco anos, já acabara com seis. No começo foi difícil, ainda conseguia sentir pena, mas com o tempo se acostumou e bastava se lembrar da irmã caçula para que o ódio e a vontade de matar a dominasse. Samanta era enfermeira e no hospital onde trabalhava ninguém imaginava que a moça bonita e prestativa fosse a culpada dos assassinatos que assustavam a pacata cidade. Quem acreditaria que aquelas mãozinhas tão delicadas ao aplicar medicamento, eram as mesmas que apunhalavam sem piedade?                                                                                          
O casal estava com a respiração agitada. A relação sexual tinha sido perfeita. A mulher se sentia no céu. O parceiro além de bonito tinha um jeito delicioso de amar. Sabia que era loucura, não deveria ter aceitado ir para a cama com um desconhecido, mas não resistira ao charme do rapaz. Languidamente a mulher se voltou quando as mãos do homem tocaram sua garganta. Por um momento ela viu o brilho da loucura naqueles olhos azuis e se debateu, mas foi inútil. A vida a deixou tão breve quanto à duração de um orgasmo.                                         
Era a segunda garrafa de vinho que o rapaz bebia. Nua a mulher esperava. Sabia que hoje não haveria relação amorosa, pois o companheiro já chegara ao hotel embriagado. Tanto melhor, ela pensou e se deitou para esperar. Acordou duas horas depois com o ronco do sujeito. Enojada ela pegou o punhal na bolsa. Nunca matara ninguém adormecido. Gostava de ver a surpresa no rosto das vítimas, mas já que não tinha outro jeito seria essa a primeira vez. Decidida ela deu a primeira, a segunda e a terceira punhalada. O corpo estremeceu e a respiração cessou. A mulher então em um único golpe cortou a garganta do rapaz.                                                                         
No corredor Samanta e o rapaz noivo de quem havia poupado à vida se encontraram. Ambos fingiram não se conhecer e saíram rápido do hotel. Dois assassinos que uma noite se amaram, e que por ironia do destino deram um ao outro a chance de continuar vivendo.

                                                                                                    Vânia Lopes

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