A morte (do latim mors), o óbito (do latim obitu),
falecimento (falecer+mento) ou passamento (passar+mento), ou ainda desencarne
(deixar a carne) é o cessamento permanente das atividades biológicas
necessárias à manutenção da vida de um organismo, como ao estado desse mesmo
após o evento. Considerado cientificamente como o fim da consciência, há várias
crenças em diversas culturas e tempos históricos que acreditam em vida após a
morte. Tema de recorrentes discussões, a morte é tratada por diversos povos com
misticismo, é comum a elas a existência de um ritual com objetivos diferentes a
cada uma.
Considerações.
Biologicamente, a morte pode ocorrer para todo o organismo
ou apenas para parte dele. É possível para células individuais, ou mesmo
órgãos, morrerem e ainda assim o organismo continuar a viver. Muitas células
individuais vivem por apenas pouco tempo e a maior parte das células de um
organismo são continuamente substituídas por novas células.
A substituição de células, através da divisão celular, é
definida pelo tamanho dos telômeros e ao fim de um certo número de divisões, cessa.
Ao final deste ciclo de renovação celular, não há mais replicação, e o
organismo terá de funcionar com cada vez menos células. Isso influenciará o
desempenho dos órgãos num processo degenerativo até o ponto em que não haverá
mais condições de propagação de sinais químicos para o funcionamento das
funções vitais do organismo; implicando a chamada morte natural, por velhice.
Também é possível que um animal continue vivo, mas sem sinal
de atividade cerebral (morte cerebral); nestas condições, tecidos e órgãos
vivem e podem ser usados para transplantes. Porém, neste caso, os tecidos
sobreviventes precisam ser removidos e transplantados rapidamente ou morrerão
também. Em raros casos, algumas células podem sobreviver, como no caso de
Henrietta Lacks, da qual células cancerígenas foram retiradas do seu corpo por
um cientista, continuando a multiplicar-se indefinidamente.
A irreversibilidade é normalmente citada como um atributo da
morte. Cientificamente, é impossível trazer de novo à vida um organismo morto,
e se um organismo vive, é porque ainda não morreu anteriormente. Contudo
existem casos que no mínimo chamam bastante a atenção e suscitam
questionamentos quanto às definições de vida e morte. Um deles cerca um grupo
de animais invertebrados denominados Rotiferas, que possuem uma capacidade
denominada criptobiose, que consiste no "cessar" metabólico quando as
condições ambientais não estão favoráveis. Eles podem manter-se assim por meses
ou mesmo anos até que as condições se restabelecerem, e então "religarem"
seus processos biológicos, retomando a sua vida normalmente. Se o conceito de
morte for estendido a tais paralisações metabólicas, esses animais literalmente
morrem e depois renascem. Igualmente, ovos de camarões (Shrimp Hatchery)
desidratados são incluídos em quites de microscopia para laboratórios
didáticos, e assim podem permanecer por mais de cinco anos. Quando imersos em
salmoura adequada, hidratam-se, desenvolvem-se plenamente e geram, em poucas
semanas, camarões crescidos, implicando um literal processo de ressurreição de
tais ovos. O caso limite é o do vírus, que até hoje permanece cientificamente
exatamente sobre a fronteira que separa os seres vivos dos não vivos, e por tal
traz muito trabalho aos taxonomistas.
Muitas pessoas não acreditam que a morte física é sempre e
necessariamente irreversível, enquanto outras acreditam em ressurreição do
espírito ou do corpo e outras ainda, têm esperança que futuros avanços
científicos e tecnológicos possam trazê-las de volta à vida, utilizando
técnicas ainda embrionárias, tais como a criogenia ou outros meios de
ressuscitação ainda por descobrir.
Alguns biólogos acreditam que a função da morte é
primariamente permitir a evolução.
Morte humana.
Historicamente, tentativas de definir o momento exato da
morte foram problemáticas. A identificação do momento exato da morte é
importante, entre outros casos, no transplante de órgãos, porque tais órgãos
precisam de ser transplantados, cirurgicamente, o mais rápido possível.
Morte já foi anteriormente definida como parada cardíaca e
respiratória mas, com o desenvolvimento da ressuscitação cardiopulmonar e da
desfibrilação, surgiu um dilema: ou a definição de morte estava errada, ou
técnicas que realmente ressuscitavam uma pessoa foram descobertas: em vários e
vários casos, respiração e pulso cardíaco são realmente restabelecidos após
cessarem. Em vista da nova tecnologia, atualmente a definição médica de morte é
conhecida como morte clínica, morte cerebral ou parada cardíaca irreversível.
A morte cerebral é definida pela cessão de atividade elétrica
no cérebro, mas mesmo aqui há correntes divergentes. Aqueles que mantêm que
apenas o neo-córtex do cérebro é necessário para a consciência argumentam que
só a atividade elétrica do neo-córtex deve ser considerada para definir a
morte. Na maioria das vezes, é usada contudo uma definição mais conservadora de
morte: a interrupção da atividade elétrica no cérebro como um todo, e não apenas
no neo-córtex. Essa é a definição adotada, por exemplo, na "Definição
Uniforme de Morte" nos Estados Unidos.
Mesmo frente a uma definição precisa de morte, a
determinação da mesma ainda traz suas peculiaridades, e pode ser difícil. A
exemplo, EEGs podem detectar pequenos impulsos elétricos onde nenhum existe,
enquanto houve casos onde atividade cerebral em um dado cérebro mostrou-se
baixa demais para que EEGs os detectassem. Por causa disso, vários hospitais
possuem elaborados protocolos determinando morte envolvendo EEGs em intervalos
separados.
A história médica contém muitas referências a pessoas que
foram declaradas mortas por médicos, e durante os procedimentos para
embalsamento eram encontradas vivas. Histórias de pessoas enterradas vivas
levaram um inventor no começo do século XX a desenhar um sistema de alarme que
poderia ser ativado dentro do caixão.
Por causa das dificuldades na definição de morte, na maioria
dos protocolos de emergência, mais de uma confirmação de morte, tipicamente
fornecida por médicos diferentes, é necessária. Alguns protocolos de
treinamento, por exemplo, afirmam que uma pessoa não deve ser considerada morta
a não ser que indicações óbvias que a morte ocorreu existam, como decapitação
ou dano extremo ao corpo. Face a qualquer possibilidade de vida, e na ausência
de uma ordem de não-ressuscitação, equipes de emergência devem proceder ao
transporte o mais imediato possível até ao hospital, para que o paciente possa
ser examinado por um médico. Isso leva à situação comum de um paciente ser dado
como morto à chegada do hospital.
Pós-morte.
A questão de o que acontece, especialmente com os humanos, durante
e após a morte, ou o que acontece "uma vez morto", se pensarmos na
morte como um estado permanente, é uma interrogação frequente, literalmente uma
questão latente na psique humana. Tais questões vêm de longa data, e a crença
numa vida após a morte com uma posterior reencarnação ou mesmo a passagem para
outros mundos embora muito antigas, são ainda muito difundidas socialmente
(veja submundo). Para muitos, a crença e informações sobre a vida após a morte
resultam de uma mera busca por consolação ou mesmo de uma covardia em relação à
morte de um ser amado ou à prospecção da inevitabilidade de sua própria morte.
A crença em vida após a morte pode para esses trazer algum consolo, contudo
crenças como o medo do Inferno ou de outras consequências negativas podem
tornar a morte algo muito mais temido. A contemplação humana da morte é uma
motivação importante para o desenvolvimento de sistemas de crenças e religiões
organizadas. Por essa razão, palavra passamento quando dita por um espírita,
significa a morte do corpo. A passagem da vida corpórea para a vida espiritual.
Apesar desse ser conceito comum a muitas crenças, ela
normalmente segue padrões diferentes de definição de acordo com cada filosofia.
Várias religiões creem que após a morte o ser vivo ficaria junto do seu
criador, para os cristãos, Deus.
Muitos antropólogos sentem que os enterros fúnebres
atribuídos ao Homem de Neanderthal / Homo neanderthalensis, onde corpos
ornamentados estão em covas cuidadosamente escavadas, decoradas com flores e
outros motivos simbólicos, é evidência de antiga crença na vida após a morte.
Do ponto de vista científico, não se confirma a idéia de uma
vida após a morte. Embora grande parte da comunidade científica sustente que
isso não é um assunto que caiba à ciência resolver, e que cientificamente não
há evidências que corroborem a existência de espíritos ou algo similar que
sobrevive após a morte, muitos pesquisadores tentaram e ainda tentam entrar
nesse campo estudando por exemplo as chamadas "experiências de
quase-morte". Para eles, o conceito de "vida" se associa ao de
"consciência". São consideradas três hipóteses:
- A
consciência existe unicamente como resultado de correlações da matéria.
Essa hipótese é a sustentada atualmente pela ciência, e se for verdadeira,
a vida cessa de existir no momento da morte.
- A
consciência não tem origem física, apenas usa o corpo como instrumento
para se expressar. Se esta hipótese for verdadeira, certamente há uma
existência de consciência após a morte e provavelmente antes da morte,
também, o que induziria às tentativas de validação da reencarnação. É a
adotada na Doutrina Espírita, por exemplo.
- A consciência tem uma origem física não identificada. Essa matéria física não identificada carrega toda a experiência de vida do ser humano a qual pertenceu, e continua viva após da morte física do corpo. Se esta hipótese for verdadeira, esta explicação validaria os acontecimentos supernaturais ocorridos no espiritualismo e êxtases em cultos de neopaganismo.
Personificação da morte.
A morte como uma entidade sensível é um conceito que existe
em muitas sociedades desde o início da história. A morte também é representada
por uma figura mitológica em várias culturas. Na iconografia ocidental ela é
usualmente representada como uma figura esquelética vestida de manta negra com
capuz e portando uma foice/gadanha. É representada nas cartas do Tarot e
frequentemente ilustrada na literatura e nas artes.
A associação da imagem com o ceifador está relacionada ao
trigo, que na Bíblia simboliza a vida. Em inglês, é geralmente dado à morte o
nome de "Grim Reaper". Também é dado o nome de Anjo da Morte (em
hebraico: מַלְאַךְ הַמָּוֶת Malach HaMavet), decorrente da Bíblia.
A morte também é uma figura mitológica que tem existido na
mitologia e na cultura popular desde o surgimento dos contadores de histórias.
Na mitologia grega, Tânato seria a divindade que personificava a morte, e
Hades, o deus do mundo da morte.
O ceifador também aparece nas cartas de tarô e em vários
trabalhos televisivos e cinematográficos. Uma das formas dessa personificação é
um grande personagem da série Discworld de Terry Pratchett, com grande parte
dos romances centrando-se nela como personagem principal.
Em alguns casos, essa personificação da morte é realmente
capaz de causar a morte da vítima, gerando histórias de que ela pode ser
subornada, enganada, ou iludida, a fim de manter uma vida. Outras crenças
consideram que o espectro da morte é apenas um psicopompo e serve para cortar
os laços antigos entre a alma e o corpo e para orientar o falecido ao outro
mundo sem ter qualquer controle sobre o fato da morte da vítima.
Morte em muitas línguas é personificada na forma masculina
(como no inglês), enquanto em outros ela é percebida como uma personagem
feminina (por exemplo, em línguas eslavas e latinas). A série supernatural
apresentou uma visão nova da morte, onde um dos cavaleiros do apocalipse,
juntamente com a morte em sua personificação humana, discutem com o personagem
principal sobre sua origem. Durante o diálogo ela afirma ser mais velha do que
Deus, e que também acima dos céus e da terra, além de também existir em outros
planetas, ela leva a vida para o abismo há muito tempo.
Os mexicanos personificam a morte na figura da Santa Muerte,
uma deusa resultante do sincretismo entre as mitologias católica e
mesoamericanas.
Santa Muerte |
Na história.
As Ordenações Filipinas - conjunto de leis que servia de
base para o direito português na época do Brasil Colônia, previa a "morte
natural" em duas versões: "natural cruel" e "natural
atroz". Na "morte cruel", o corpo do condenado era objeto de
vingança e, por isso, devia ser torturado vivo. A finalidade era prolongar o
sofrimento da vítima.
No caso da condenação por "morte natural atroz", a
vítima teria ainda seus bens confiscados e a família seria atingida até a
geração dos netos. Essa punição era considerada mais branda que a da
"morte natural cruel" e o condenado podia ser esquartejado depois de
morto. Em ambos os casos era ressaltado o "caráter pedagógico" da
degradação do cadáver. Era a "pedagogia do domínio" pelo medo,
"aprendida" por todos que presenciavam o "espetáculo".
Exemplo conhecido de sentenciado com a "morte natural
cruel" é a de um dos inconfidentes. A essa pena Tiradentes foi condenado
em 1792.
No final do século XVIII, o direito português previa a
"morte natural para sempre": proibia o sepultamento do cadáver, que
teria as partes do corpo expostas até a decomposição completa."
Na literatura.
Como Oscar Wilde escreveu tão elegantemente: "(...)
Morte é o fim da vida, e toda a gente teme isso, só a Morte é temida pela Vida,
e as duas reflectem-se em cada uma (...)"
"(...) desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor
(...)" (Filipenses 2:12) A visão da Bíblia sobre a Morte.
A morte é considerada através de várias perspectivas na
literatura de todo o mundo. Encaramos a morte, lidamos com o falecimento de
entes queridos e desconhecidos, discutimos o seu significado religioso,
filosófico, social, e tudo o mais em documentos escritos que podem imbuir-se de
mero valor artístico até valor dogmático e mesmo legal.
Muitos autores usaram-na como via para expressar o que há depois
da vida, sob a perspectiva de várias teorias. As três mais divulgadas e
preponderantes são:
- A
teoria da "Extinção Absoluta" permanente da vida ao ocorrer à
morte física, ou teoria Materialista (monista);
- A
teoria do "Céu e Inferno" numa vida eterna para além da física e
determinada pela conduta na vida física, ou teoria Teológica
- A teoria da reencarnação através de renascimentos sucessivos em corpos físicos e com diferentes experiências de vida para alcançar a expansão de consciência e perfeição espiritual, ou teoria do Renascimento (dualista).
Na ciência.
A morte, no ramo das ciências, é estudada pela tanatologia.
Nesse sentido são estudados causas, circunstâncias, fenômenos e repercussões
jurídico-sociais, sendo amplamente utilizados na medicina legal. No Brasil o
diagnóstico da morte é regido pela resolução 1.480/97 do Conselho Federal de
Medicina. A morte também é estudada em outros ramos da ciência, notadamente os
relacionados a tratar doenças e traumatismos evitando que elas ocorram. No mesmo
sentido uma das estatísticas mundialmente utilizadas para ações governamentais
de prevenção são as taxas de mortalidade. Alguns estudos da ciência abordam as
experiências de quase morte no sentido de entender os fenômenos correlacionados
na quase morte.
Experiência de quase
morte.
Um dos ramos da ciência relatados através de vários casos de
quase morte estuda os sentimentos declarados de pacientes que recuperaram suas
funções vitais depois de uma intervenção médica. São comuns relatos de pessoas que
dizem ter visto uma luz, um túnel iluminado e, às vezes, vendo-se a si mesmo,
fora do próprio corpo, a exemplo durante uma cirurgia. Esses relatos dividem
opiniões de especialistas que defendem as causas religiosas no sentido de que a
"luz" vivenciada pelos pacientes de quase morte era a luz que
indicava o caminho para o mundo pós-morte. A ciência explica esse fenômeno
através de alterações químicas no cérebro, especialmente pela falta de
oxigenação em cirurgias graves, fazendo o paciente ter alucinações nesse
período de intervenção.
Em experimentos realizados em aceleradores centrípetos, que
visam a compreender as reações psicofisiológicas humanas em presença de enormes
acelerações, após momentaneamente desmaiarem dada a incapacidade circulatória,
as pessoas submetidas ao teste relatam quase sempre alucinações análogas às
apresentadas pelas pessoas que passaram por experiências de quase-morte,
incluso a experiência de se ver fora do corpo; muito embora, nesses
experimentos controlados, as pessoas em testes sejam seguramente mantidas longe
do limite entre a vida e a morte. A compreensão das reações humanas à bruscas
acelerações mostra-se importante a exemplo na aviação militar, onde facilmente
os pilotos encontrar-se-ão submetidos a enormes acelerações, usualmente medida
via múltiplo da aceleração da gravidade, ou de seu próprio peso, mediante a
chamada força G.
O Dr. Raymond Moody cunhou o termo "experiência de
quase-morte" em seu livro escrito em 1975, "Vida após a vida". O
livro ganhou atenção do público para o conceito de experiência de quase-morte.
Entretanto, relatos dessas experiências sempre ocorreram na história. A obra
"República", de Platão, escrita em 360 a .C., contém a lenda de
um soldado chamado Er que teve uma experiência semelhante depois de ter sido
ferido em combate. Er
descreveu sua alma deixando seu corpo e, do céu, viu-a sendo julgada junto com
outras almas.
A maioria das "experiências de quase-morte" tem as
seguintes percepções:
- Sensações
de tranqüilidade - essas sensações podem incluir paz, aceitação da morte,
conforto físico e emocional;
- Luz
radiante, pura e intensa - é uma luz que muitas vezes preenche o quarto.
Em vários casos os pacientes associam-na ao Céu e a Deus;
- Experiências
fora do corpo - a pessoa sente que deixou seu corpo. Ela pode olhar para
baixo e ver o corpo, geralmente descrevendo com certa precia visão dos
médicos trabalhando nele.
- Entrando
em outra realidade ou dimensão - dependendo das crenças religiosas da
pessoa ela pode se sentir entrando num portal de novas dimensões
- Seres espirituais - a pessoa sente-se encontrando "seres de luz" ou de outras representações de entidades espirituais. Ela pode perceber esses seres como entes queridos que morreram, anjos, santos ou Deus.
Culto dos mortos em
Portugal.
Segundo Leite de Vasconcelos na noite de Todos os Santos, em
Barqueiros, era tradição preparar, à meia-noite, uma mesa com castanhas para os
mortos da família irem comer; e depois ninguém mais tocava nas castanhas porque
se dizia que estavam “babada dos defuntos”. É também costume deixar um lugar
vago à mesa para o morto ou deixar a mesa cheia de iguarias toda a noite da consoada
para as "alminhas".
Leite de Vasconcelos também considerava o magusto, festa
popular em que amigos e famílias se juntam para assar e comer castanhas, como o
vestígio de um antigo sacrifício em honra dos mortos.
Nesta noite ninguém
cuide
Encontrar-se à mesa a
sós!
Porque os nossos
q'ridos mortos
Vão sentar-se junto a
nós.
Outras manifestações do culto dos mortos são as alminhas e os
cruzeiros, pequenos monumentos de devoção que se encontram frequentemente na
beira dos caminhos, os Fiéis de Deus e a tradição de pedir o pão-por-deus.
Nas Viagens do Barão de Rozmital, de 1465 a 1467, encontram-se
algumas referências aos clamores e brados e outras tradições funebres: « Ha
também alli esta costumeira : morrendo alguém, levam para a igreja vinho,
carne, pão e outras comidas ; os parentes do morto acompanham o funeral
vestidos de roupas brancas próprias dos enterros com capuzes á maneira dos
monges, com o qual vestuário se vestem de um modo admirável. Aquelles, porém,
que são assalariados para carpirem o defunto vão vestidos com roupa preta, e
fazem um pranto como o d'aquelles que entre nós pulam de contentes ou estão
alegres por terem bebido. »
Classificação.
Quanto à realidade.
Real.
Segundo a fé cristã, Jesus foi o único a vencer a morte.
O conceito de morte, interessando a áreas tão diversas como
as ciências biológicas, jurídicas, sociais e à religião, está longe de ter um
consenso quanto ao momento real de sua ocorrência. Observada do ponto de vista
biológico, e atentando-se para o corpo como um todo, a morte não é fato único e
instantâneo, antes o resultado de uma série de processos, de uma transição
gradual.
Levando-se em consideração as diferentes resistências vitais
à privação de oxigênio das células, tecidos, órgãos e sistemas que integram o
corpo, pode admitir-se que a morte é um verdadeiro "processo
incoativo", que passa por diversos estágios.
Cada campo do conhecimento e cada ramo da medicina acabaram
por tomar um momento desse processo, adotando-o como critério definidor de
morte. A Medicina Legal teve de adotar uma determinada etapa do citado processo
como o seu critério de morte e, para tanto, optou pela etapa da morte clínica.
Até não há muito tempo, uma das grandes questões era poder
determinar se uma pessoa realmente estava morta, ou se encontrava em um estado
de morte aparente. Tudo isso visando evitar o enterro precipitado, que seria
fatal nesta última situação. O fato assumiu tal importância que chegou a
influenciar os legisladores, que acabaram por colocar, na legislação adjetiva
civil, prazos mínimos para a implementação de certos procedimentos como a
necropsia e o sepultamento.
O aparecimento de modernas técnicas de ressuscitação
cardiopulmonar e de manutenção artificial de algumas funções vitais, como a
respiração - respiradores mecânicos, oxigenadores - e a circulação - bomba de
circulação extracorpórea -, mesmo na vigência da perda total e irreversível da
atividade encefálica, criou a necessidade de rever os critérios definição de
morte.
Atividade neurológica.
A atividade neurológica é a única das funções vitais que,
até o presente momento, não teve condições, em que pesem os avanços
tecnológicos, de ser suplementada nem de ter suas funções mantidas por qualquer
meio artificial. Daí que a sua irrecuperabilidade ou a sua extinção possam ser
considerados sinônimos da própria extinção da vida.
Mas é a nível neurológico que ocorrem os mais variados e
sutis estados intermediários entre a vida e a morte, denominados "estados
fronteiriços".
Alguns desses "estados fronteiriços" se encontram
mais próximos da morte, como os "comas ultrapassados" (carus ou
"coma dépassé"), com desaparecimento da vida de relação e, mesmo com
conservação da vida vegetativa, se tornam crônicos ou irreversíveis. Outras formas,
por outro lado, encontram-se mais próximas da vida, como os denominados estados
de "morte aparente".
Aparente.
A morte aparente pode ser definida como um estado
transitório em que as funções vitais "aparentemente" são abolidas, em
consequências de uma doença ou entidade mórbida que simula a morte. Nesses
casos, que também podem ser provocados por acidentes ou pelo uso abusivo de
substâncias depressoras do sistema nervoso central (SNC), a temperatura
corporal pode cair sensivelmente e ocorre um rebaixamento das funções cardiorrespiratórias
de tal envergadura que oferecem, ao simples exame clínico, a aparência de morte
real.
É inconteste que, nesse quadro, a vida continua sem que,
contudo, se manifestem sinais externos: os batimentos cardíacos são
imperceptíveis, os movimentos respiratórios praticamente não são apreciáveis,
ao tempo que inexistem elementos de motricidade e de sensibilidade cutânea.
Assim, a denominada tríade de Thoinot define, clinicamente,
o estado de morte aparente:
- imobilidade,
- ausência
aparente da respiração e
- ausência de circulação.
A duração desse estado foi um dos elementos que mais
aguçaram a curiosidade dos pesquisadores. Historicamente, surgiram opiniões das
mais díspares, indo desde alguns minutos até dias de morte aparente.
Sincopal.
É a mais frequente das causas, resultando, em geral, de uma
perturbação cardiovascular central ou periférica, bem como por perturbação
encefálica ou metabólica.
Histérica
(letargia e catalepsia).
As crises histéricas ocupam o segundo lugar em freqüência na
produção de estados de morte aparente. O termo genérico letargia designa todos
os estados de torpor de longa duração, acompanhados de perda de movimentos,
sensibilidade e consciência, que podem ser confundidos com a morte real.
Asfíctica.
É também uma das causas assaz freqüentes de morte aparente.
Manifesta-se sob duas formas:
mecânica: quer com via aérea livre, quer com a via
obstruída, e
não mecânica: asfixia de utilização ou histótóxica (absorção
de CO, cianuretos e venenos metemoglobinizantes).
Tóxica.
Compreenda a anestesia e a utilização de morfina ou outros
alcalóides do ópio (heroína) em doses tóxicas.
Apoplética.
É causada pela congestão (ingurgitação) e hemorragia no
território de uma artéria encefálica (em geral, a lentículo-estriatal). É mais
frequente em pacientes com antecedentes de hipertensão arterial essencial, mas
também pode observar-se em outros quadros.
Traumática.
Que ocorre em casos em que se produzem outros efeitos gerais
simultâneos, como:
- Elétrica (por eletropressão ou
fulguração).
Pode observar-se nos atingidos por descargas de eletricidade
comercial e que sobrevivem, quedando em um estado de morte aparente. Pode ser
vista também em pessoas afetadas pela indução de descargas de eletricidade
natural (queroaurância) - fulguração - em uma área de 30 a 60 m de diâmetro, em torno do
ponto da faísca.
- Térmica (termopatias e eriopatias).
A morte aparente, nesses casos, sobrevém quando falham os
mecanismos de regulação da temperatura corporal decorrente de um desequilíbrio
no nível de combustão intra-orgânica. As termopatias ocorrem nos casos de
"golpes de calor" hipertérmicos ou de hiperirexia, com retenção
calórica. É uma ocorrência mais freqüente no verão ou em regiões com altas
temperaturas e elevada taxa de umidade relativa ambiente, em pessoas com
patologias preexistentes ou sem elas, idosos e crianças, mais sensíveis ao
calor.
- Criopatia.
A morte aparente por criopatia ocorre quando há hipotermia
global aguda. Observa-se, com freqüência, em ébrios que dormem ao relento nos
quais a vasodilatação periférica aumenta a perda calórica, facilitando a
hiportermia. também nas crianças desabrigadas na época invernal; nos acidentes
com queda das vítimas ao mar (pilotos, náufragos); e até por causas
iatrogênicas (transfusões de sangue frio). O estado de morte aparente pode
instalar-se quando a temperatura central chegue abaixo dos 32 °C .
Causas gerais.
A morte aparente pode observar-se em algumas formas
terminais de cólera, na eclâmpsia durante o período comatoso, e em alguns casos
de epilepsia.
Quanto à rapidez.
Morte rápida.
Denomina-se morte rápida ou súbita aquela que, pela
brevidade de instalação do processo - em questão de segundos - não possibilita
que seja realizada uma pesquisa profunda e uma observação acurada dos sintomas
clínicos, hábil a ensejar um diagnóstico com certeza e segurança, nem poder
instituir um tratamento adequado, e muitas vezes, sequer elidir se houve ou não
violência.
Morte lenta.
Recebe o nome de morte lenta ou agônica aquela que, em
geral, vem de maneira esperada, devagar, significando a culminação de um estado
mórbido, isto é, de uma doença ou da evolução de um tratamento.
Afora as características e dados que eventualmente aflorem
do exame perinecroscópico, alguns dos quais podem apontar para morte rápida -
e.g. espasmo cadavérico - outros também podem orientar no sentido de uma morte
lenta, demorada, ponto final de uma longa agonia, tal o caso da emaciação, da
caquexia, da presença de extensas escaras de apoio, entre outros exemplos.
Fonte: Wikipédia.
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